nº 101 - A Nova Ameaça de Andrómeda



Autor: Fred Hoyle e John Elliot
Título original: Andromeda Breakthrough
1ª Edição: 1965
Publicado na Colecção Argonauta em 1965
Capa: Lima de Freitas
Tradução: Jorge Fonseca

Súmula - foi apresentada no livro nº100 da Colecção, com a indicação de "Ler nas páginas seguintes a súmula do próximo volume da Colecção Argonauta":

Fred Hoyle é professor de astronomia e filosofia experimental na Universidade de Cambridge e autor de obras científicas de grande importância e projecção pela originalidade das suas ideias. A sua tese sobre a criação permanente do Universo, tornou-o célebre nos meios científicos, bem como as suas ideias arrojadas acerca da estrutura da Terra, da origem dos planetas, da evolução das galáxias e de muitos outros problemas astronómicos, que expõe em obras tais como A Natureza do Universo e Fronteiras da Astronomia.
Fred Hoyle, enfant terrible da moderna cosmogonia, é também um célebre escritor de ficção-científica, de que a Colecção Argonauta publicou já os magníficos romances A Núvem Negra e Ameaça de Andrómeda, este último escrito em colaboração com John Elliot, e que obteve assinalado sucesso na Televisão Britânica.
Nova Ameaça de Andrómeda, é também fruto do tandem Fred Hoyle-John Elliot, e é a continuação de Ameaça de Andrómeda, com as mesmas personagens, muito embora constitua um romance inteiramente novo, que pode ser lido por si só. Nele, a ideia da mensagem de Andrómeda encontra um novo e imprevisto desenvolvimento, que ilustra a fantástica imaginação dos autores - imaginação que, todavia, se fundamenta nos profundos conhecimentos científicos de Fred Hoyle.
Sinais misteriosos, captados pelo gigantesco radiotelescópio de Bouldershaw e provenientes da nebulosa de Andrómeda, conduziram à construção do mais prodigioso dos "cérebros electrónicos". Como os leitores fieis da Colecção Argonauta estão lembrados, essa fantástica máquina de pensar, nascida de uma mensagem vinda do fundo do espaço e do tempo, oriunda de inteligências alheias, infinitamente evoluídas e incompreensíveis para os homens, conduz a fenómenos independentes da vontade humana. Só por um triz o mundo escapa a uma catástrofe.
No próximo volume desta colecção, Nova Ameaça de Andrómeda, um inesperado desenvolvimento conduz, mais uma vez, a uma situação de gravíssimo perigo para a Humanidade. A mensagem da Nebulosa de Andrómeda, captada pelo radiotelescópio de Bouldershaw, não foi destruída. O registo em fita magnética dessa mensagem caíu nas mãos de uma poderosa organização financeira internacional, que resolve proceder, por seu turno, à construção do "cérebro electrónico" cuja descrição está codificada nessa mensagem. A ambição do dinheiro e do poder, eis o que move essa organização sem escrúpulos: mais uma vez, Fred Hoyle e John Elliot procuram mostrar os perigos que acarretam a utilização imoral e inconsiderada das possibilidades maravilhosas da Ciência, quando posta ao serviço de interesses que nada têm que ver com o bem-estar e o progresso da Humanidade.
O estilo deste novo romance dos célebres autores é vivo, directo, brutal e fascinante. Eis um trecho, que dará ao leitor um antegosto do que é a Nova Ameaça de Andrómeda:
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Os seus olhos fitavam-no sem pestanejar, malevolentes. Fleming experimentou a sensação ridículoa de que ela o hipnotizava. Para desfazer essa sensação, desviou o olhar e emborcou o resto do uísque. Mas pousou o copo, percebeu que a bebida fora drogada. Sentiu as pernas fraquejarem e não pôde impedir que o seu espírito começasse a divagar sem sentido, acerca de acontecimentos passados. Estendeu uma mão para se agarrar a uma poltrona que não conseguia ver com nitidez, e afundou-se nela.
Gamboul acercou-se imediatamente, e parou à sua frente.
- Agora conte-me tudo - ordenou.
Fleming começou por falar de modo hesitante, deixando algumas frases incompletas, refeindo assuntos sem importância e sem relação: mas, passsada meia-hora, janine Gamboul sabia toda a história.
Sentou-se a contemplar Fleming, que permaneceu inconsciente durante muito tempo após o questionário. Perguntava-se a si mesma se esse inglês enigmático, mas altamente desejável, não teria conseguido lográ-la e simulado uma reacção à droga. Mas acabou por pôr essa suspeita de parte, considerando-a absurda; sabia tudo quanto havia a saber acerca dos efeitos.
Ligou o intercomunicador, pousado sobre a secretária de Salim e ordenou que transportassem Fleming para a sua vivenda; pediu depois um automóvel para si própria.
Vinte minutos depois, chegava à vivenda de André. A porta estava aberta e, nas proximidades, havia apenas uma sentinela. Perguntou-lhe em árabe onde estava a rapariga branca e o homem respondeu que saíra para ir ao edifício oposto. Assustado, acrescentou que não tinha recebido qualquer ordem de recorrer à força para a impedir de sair de casa.
Gamboul dirigiu-se ao edifício do computador. Abu Zeki não se encontrava lá, mas duas sentinelas caminhavam num incessante vaivém pelo corredor principal. Avistou André sentada muito calma, diante do écrã sensorial da secção de comunicações.
- Que faz aqui? - inquiriu Gamboul, desconfiada.
André sorriu-lhe.
- Estava à sua espera - respondeu em tom monocórdico - À sua espera. A senhora foi o resultado da escolha lógica - olhou atentamente para o écrã escurecido. - Que obrigou o Dr. Fleming a dizer-lhe?
- Você--- você sabe isso? - admirou-se Gamboul.
André confirmou, com um aceno de cabeça.
- É tudo vaticinável. Sem dúvida, não acreditou em tudo o que ele disse. Mas eu vou mostrar-lhe. Sente-se a meu lado. Não tenha receio. Não há qualquer razão para isso.
Gamboul puxou uma cadeira. André dirigiu-lhe um gesto tranquilizador e depois colocou as mãos sobre os controlos sensoriais. O écrã, apresentou um ponto de luz que se dilatou e se extinguiu. Depois surgiu uma imagem vaga e turva, em meios-tons.
- O que é aquilo? - sussurrou Gamboul?
A voz de André soou inexpressiva e mecânica.
- Repare. Já lhe explico. É o sítio de onde a mensagem vem. Não tardará a saber o papel que lhe destinaram.
Até noite adiante, as duas mulheres ficaram sentadas diante do écrã: a figura frágil e pequena de André, muito direita e um pouco altiva: Gamboul imóvel e pasmada, procurando assimilar com o olhar as estranhas imagens que apareciam, clareavam e se tornavam nebulosas, ao mesmo tempo que o seu cérebro ia absorvendo a interpretação que André murmurava.
À parte as sentinelas desinteressadas, Abu Zeki foi a única pessoa que viu as duas mulheres ali. Ao reconhecer Gamboul, afastou-se. Esta mulher intimidava-o e era-lhe antipática. Haviam-lhe chegado rumores da sua intimidade com o coronel Salim e não seria prudente envolver-se em complicações com a amante do novo ditador. 
Foi para o seu quarto e estendeu-se em cima da cama. Logo compreendeu que lhe custava a adormecer, dada a excitação própria do período momentoso que atravessavam. Pensou, feliz, no admirável mundo novo que nascera no momento em que a emissora nacional anunciara a mudança do Governo. Contudo, nos recesssos do seu espírito, havia um pressentimento de desastre. Atribuíu a razão disto à sua conversa com Fleming. Gostava do inglês e apreciava a maneira como analisava um problema. Abu queria aprender a ser como ele.
Obrigou o espírito a desviar-se para ideias mais agradáveis - a sua mulher, o seu filhinho. Mas era inútil. O zumbido baixo do computador, parecia impregnar o próprio ar. Começou a dormitar...
O zumbido... Por conseguinte, a máquina continuava a funcionar. Sentou-se e olhou para o relógio. Os ponteiros luminosos indicavam três e meia da manhã. Se as duas mulheres ainda lá estavam, significava isso que haviam trabalhado já oito horas, pelo menos. 
Levantou-se. O céu oriental apresentava já uma coloração rosada. Atravessou a correr o "campo" em direcção ao edifício do computador. Uma sentinela, que havia adormecido em pé, acordou sobressaltada. Abu identificou-se e o homem tornou a encostar-se indolentemente à parede.
Lá dentro, todas as luzes estavam acesas e o ar, em comparação com a aspereza do vento que soprava do deserto, parecia muito denso e quente. As duas mulheres, continuavam a fitar o écrã. A voz de André era tão baixa que o árabe não conseguiu entender o que dizia, nem sequer quando parou alguns passos atrás dela.
- Mam'selle Gamboul, que se passa? - inquiriu - Miss André, sou eu... Abu Zeki.
A julgar pela importância que lhe deram, dir-se-ia que o rapaz era um fantasma afónico. O árabe sentiu um formigueiro de medo e retirou-se, em silêncio.
Lá fora, parou para inspirar fundo o ar fresco e agradável. Sentiu-se logo melhor e de espírito desanuviado. Tomou uma decisão.
Correu à vivenda de Fleming. Uma sentinela postada à entrada da porta, barrou-lhe a passagem. O soldado chamou por cima do ombro e a porta abriu-se, dando saída a Kaufman. 
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A Colecção Argonauta, orgulha-se de apresentar ao público português esta nova obra de Fred Hoyle e John Elliot que, para lá dos valores indesmentíveis do estilo e do suspense, levanta alguns dos problemas mais sérios que se põem à consciência contemporânea, num mundo em que a Ciência assume uma importância cada vez mais decisiva.

Nota: inicia-se aqui a segunda fase das capas da Colecção Argonauta (do nº 101 ao nº 224), abandonando aquelas que foram as minhas preferidas, e que eu costumo apelidar de "aguarelas". Iniciam-se aqui as capas de cores múltiplas, deixando geralmente o branco de constituir a cor de fundo, como era típico da série anterior. De qualquer modo, esta segunda série de capas é a minha segunda preferida, a seguir à série das "aguarelas".

7 comentários:

  1. Apesar de tudo estas duas (101 e 102) estão fabulosas.

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    1. Eu diria que a fase vai até ao 184! Depois começam as baseadas em fotografias (pseudo)abstractas que (pessoalmente) detesto! :(

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  2. Blog fantástico, muitos parabéns.

    Para quando um vídeo com a apresentação dos números a partir deste 101º?

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    1. Viva, e obrigado pelas palavras simpáticas.
      Os vídeos estão todos feitos, deviam aparecer. Vou ver o que se passa no próximo fim-de-semana.

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    2. Olá.

      Também não encontrei os vídeos com a apresentação dos livros a partir deste volume. Pode partilhar os links com os vídeos? Seria muito interessante!

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    3. Viva, os vídeos já estão disponíveis. Recordo que estão de 50 em 50 números (50-100-150-200-250-300-350-400-450-552)
      Grato!

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  3. Vivam, os vídeos estão agora todos disponíveis, excepto do nº553 ao nº563, os últimos onze livros da Colecção Argonauta que já não respeitaram o formato habitual.
    Um abraço.

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